sexta-feira, 13 de setembro de 2013

RENAIS: CUIDADO COM A DEPRESSÃO



O paciente renal está sujeito a transtornos mentais. São muitos estudos com resultados um pouco diferentes, então vamos comentar aos poucos.

Nuñez e outros (2004) fizeram um trabalho com 75 pacientes em três hospitais espanhóis. Quantos apresentavam depressão? O resultado não é otimista: 22,7% deles apresentavam depressão moderada ou grave e 30,7% apresentaram depressão leve.

Quais são os sintomas de depressão no paciente renal?

Observe se ao longo de duas semanas o paciente está apresentando alguns (e não apenas um) desses sintomas (critérios do DSMIV):

- Chora muito
- Sente-se triste ou vazio
- Não tem interesse pelas atividades
- Não sente prazer em fazer atividades que antes eram prazerosas
- Perda ou ganho significativo de peso sem estar de dieta (cuidado com este sintoma, que pode ser por causa de desnutrição com a diálise e não da depressão)
- Insônia ou excesso de sono
- Sente-se inútil ou culpado sem razão
- Fadiga ou perda de energia (fora do horário imediatamente após a hemodiálise, no qual é normal sentir-se cansado em função da “retirada do líquido excessivo”)
- Dificuldade de concentração
- Indecisão em situações simples
- Vontade de morrer, ideias suicidas

Estes sintomas demandam cuidados. Se há suspeita de depressão, o melhor profissional para avaliá-la e trata-la com medicamentos é o psiquiatra. O paciente pode ser beneficiado pelo tratamento psicológico simultâneo.

Evitem a “tentação” de querer que os nefrologistas tratem da depressão de seus  pacientes. Eles são médicos e têm habilitação para tal, mas não são especializados em transtornos mentais.  Os psiquiatras têm muito mais traquejo para acompanhar este tipo de tratamento, na minha opinião.

Lamentavelmente, apesar da alta prevalência (grande número de pacientes renais com depressão) as normas que regulam o tratamento não preveem facilidade de acesso ao tratamento psiquiátrico, o que acaba aumentando o risco de suicídio e a diminuição da qualidade de vida do paciente.

Algumas situações exigem maior atenção da equipe, especialmente do serviço de psicologia: 

1. Infecção do peritônio (peritonite) de pacientes em diálise peritoneal
2. Perda da função renal com início do tratamento substitutivo (hemodiálise, diálise peritoneal ou transplante renal)
3. Perda de fístula por paciente em hemodiálise 
4. Perda de órgão transplantado

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

NUNCA COCA-COLA



Um dos íons que deve ser retirado do sangue durante a hemodiálise é o fósforo. É um elemento chatinho de tirar, porque só sai, em média, nas duas primeiras horas de diálise. O capilar retira o fósforo que estiver na corrente sanguínea, mas o fósforo que estiver dentro das células demora muito a sair.

Li em algum lugar que durante uma sessão de diálise se consegue retirar 800 mg de fósforo, apenas. Complicado, porque o fósforo é muito difícil de restringir apenas com dieta, exigindo que os pacientes tomem o que chamamos de quelantes de fósforo (ou carbonato de cálcio, ou acetato de cálcio, ou renagel, que é o cloridrato de sevelâmer, ou hidróxido de alumínio). Os quelantes "grudam" no fósforo que ingerimos com os alimentos e o elimina nas fezes.

Os pacientes renais em tratamento substitutivo têm que controlar o consumo de alimentos com fósforo, e evitar ao máximo os de alto teor de fósforo. Adivinha o que tem fósforo? Isso mesmo, a Coca Cola e os refrigerantes similares, à base de cola. Eles têm na sua fórmula de fabricação o ácido fosfórico, ou seja, fósforo líquido! 

A quantidade parece não ser grande, são cerca de 60 mg de fósforo, para uma lata de refrigerante, mas por que beber este tipo de refrigerante se há outros tipos de bebida sem fósforo?

Então o que fazer? Beba limonada ou suco de abacaxi, que têm nenhum fósforo e baixo potássio.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

QUANTA ÁGUA DEVO TOMAR?



Uma âncora famosa de jornalismo televisivo me ofereceu água. Eu agradeci, e disse que não podia tomar. Ela insistiu, porque um médico havia recomendado o consumo de dois litros de água por dia. Eu expliquei que no caso dos pacientes em diálise é diferente. Ela pareceu não entender, ou não concordar.

Então vou explicar. Primeiro é preciso saber se o renal está em tratamento conservador (está perdendo a função renal mas ainda não faz qualquer tipo de diálise) ou em tratamento dialítico (faz hemodiálise ou diálise peritoneal. Vou deixar os transplantados de fora, aqui.)

Em tratamento conservador, a "regra dos dois litros" se aplica. Por que? Porque os rins estão funcionando e o paciente urina, ou seja, elimina o excesso de líquido do organismo, junto com elementos que não devem ficar no sangue, como o potássio e o fósforo. Não quer dizer que tenha que ser dois litros exatamente, mas é uma boa referência.

Em tratamento dialítico, o paciente deve consumir meio litro por dia de líquido. Por que? Por que como ele urina pouco ou não urina (anúrico) todo o líquido ingerido, até a próxima sessão de diálise, aumenta o volume do sangue. Isso sobrecarrega o coração, que tem que "bombar" uma quantidade maior de líquido, então vai aumentando sua musculatura e diminuindo sua capacidade.

Outro problema é que se o paciente ganha muito líquido entre as sessões de hemodiálise, ele tem que tirar muito líquido de uma vez (nossa clínica aceita no máximo um litro por hora de sessão, ou seja, quatro litros em uma sessão regular), correndo o risco de passar mal ao final da sessão, apresentando crises de pressão baixa (hipotensão).

Tenho colegas de tratamento que chegam a ganhar de seis a oito quilos entre duas sessões, o que é um suicídio lento.

Então, para não termos a sensação de sede, temos alguns truques, que falarei depois. O que posso aconselhar aos familiares e amigos dos pacientes renais é que apoiem seus esforços para ingerir pouco líquido (incluindo aqui as melancias, sucos, refrigerantes, cafés, etc.)